De um lado, líderes estatais e executivos de grandes empresas reafirmam compromissos de neutralidade de carbono, planos de transição energética e metas de redução de emissões. Do outro, movimentos climáticos, organizações indígenas, juventudes urbanas e pesquisadores denunciam que tais metas são insuficientes, frequentemente baseadas em compensações de carbono pouco verificáveis e em mecanismos de mercado que transferem responsabilidade, sem reduzir efetivamente as emissões. Para os manifestantes, há uma contradição intransponível entre a lógica de acumulação — que exige expansão constante, abertura de novas frentes extrativas e aprofundamento de desigualdades — e a necessidade de conter o colapso ecológico.
Os protestos também revelaram as tensões específicas do contexto amazônico. Belém recebeu a COP30 como símbolo global de compromisso ambiental, mas a região continua sofrendo com o avanço do garimpo ilegal, do desmatamento e de megaprojetos que desconsideram modos de vida tradicionais. As vozes indígenas foram especialmente contundentes ao denunciar que o discurso de sustentabilidade, quando apropriado por governos e empresas, muitas vezes serve para legitimar práticas que mantêm a lógica colonial de exploração de territórios e corpos. Assim, a Amazônia transforma-se em vitrine diplomática ao mesmo tempo em que segue vulnerável ao capital predatório.
A insatisfação dos movimentos sociais não se limita ao diagnóstico ambiental: ela abrange também o modo como o capitalismo neoliberal captura a própria ideia de sustentabilidade. A crescente financeirização da natureza — com créditos de carbono, títulos verdes e portfólios ESG — cria uma ilusão de compatibilidade entre maximização de lucros e preservação ambiental. Entretanto, na prática, tais instrumentos tendem a reforçar desigualdades, privilegiando países e corporações capazes de moldar as regras e deixando comunidades locais com os custos sociais e ecológicos. O resultado é um modelo que promete conciliação, mas mantém intactas as estruturas que alimentam a crise climática.
Os protestos na COP30, portanto, cumprem uma função histórica: tensionam o horizonte político e denunciam que a crise climática não é apenas técnica ou gerencial, mas resultado direto de uma ordem econômica que transforma bens comuns em mercadorias e reduz ecossistemas a ativos. Ao afirmarem que “não haverá futuro possível dentro da lógica atual”, os manifestantes apontam para a necessidade de alternativas que ultrapassem a promessa limitada do desenvolvimento sustentável tal como formulado pelas instituições dominantes.
Em última instância, os protestos mostram que, na disputa entre a sobrevivência do planeta e a manutenção de um modelo econômico baseado na exploração ilimitada, o tempo se esgota rapidamente. A COP30, com toda sua diplomacia e seus consensos frágeis, expõe mais uma vez que a transição ecológica não será alcançada apenas por declarações de boa vontade, mas pela confrontação direta dos interesses que lucram com a crise. É nesse choque que se revelam, com nitidez, os limites do desenvolvimento sustentável no capitalismo — e a urgência de imaginar outros caminhos.








