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| Imagem: Paulo Gala / Economia e Finanças. |
A chamada “supremacia chinesa” não nasce apenas do volume de exportações, mas de uma estratégia que integrou investimento maciço em infraestrutura, incentivos industriais, educação técnica e inovação, criando um ecossistema produtivo capaz de operar com eficiência em praticamente todas as etapas da cadeia global. Ao contrário de nações que se contentaram em ocupar posições periféricas na Divisão Internacional do Trabalho, a China construiu deliberadamente sua ascensão, combinando pragmatismo político e ambição geoeconômica.
O superávit gigantesco simboliza esse movimento, pois revela que a China conseguiu transformar seu potencial produtivo em capacidade de ditar ritmos e padrões no comércio mundial. Cada contêiner que sai de seus portos reflete décadas de investimentos em manufatura avançada, logística integrada e políticas industriais que não se deixaram constranger por dogmas de mercado. É esse arcabouço que permite ao país avançar na transição para setores de alta complexidade — como semicondutores, energia renovável e veículos elétricos — mantendo competitividade mesmo diante de tensões comerciais e tentativas de contenção por parte de potências ocidentais.
Além disso, o acúmulo de superávits reforça o poder financeiro chinês, garantindo reservas cambiais colossais que servem não apenas como colchão de estabilidade, mas também como ferramenta de projeção internacional. Em outras palavras, o saldo comercial não é um fim em si, mas parte de um mecanismo que amplia a margem de manobra da China no tabuleiro geopolítico, permitindo-lhe desafiar estruturas tradicionais de poder.
Para muitos países, especialmente em desenvolvimento, o contraste é evidente: enquanto alguns aceitaram passivamente o papel que lhes foi atribuído, a China reescreveu sua própria trajetória. O superávit trilionário é, portanto, mais do que um indicador econômico — é a prova de que um Estado capaz de articular visão estratégica, planejamento e soberania política pode alterar a própria posição na hierarquia global.
Se existe hoje uma supremacia chinesa, ela não nasce da retórica, mas desses resultados concretos que se acumulam ano após ano, mostrando que o século XXI tem, cada vez mais, um centro de gravidade deslocado para o Oriente.

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