terça-feira, 24 de setembro de 2019

A MORTE DE ÁGATHA: MAIS UMA VÍTIMA DE UMA ESCOLHA!

    As relações sociais não seguem conforme o princípio da necessidade, em que algo inexoravelmente ocorre ou é de uma determinada forma. No plano da natureza, por exemplo, quando as condições ideais de temperatura, pressão atmosférica e umidade estão presentes, ocorre, necessariamente, precipitação pluviométrica, chuva! 
    Relações sociais, no entanto, ocorrem, ou se dão, segundo o principio da contingência, em que determinado fenômeno ocorre de uma forma, mas pode, também, ocorrer de várias outras formas. Ou seja, os acontecimentos na sociedade não seguem segundo uma lei natural, ou desígnio divino, conduzindo de forma determinista as relações humanas, mas são fruto de escolhas humanas, em geral do grupo ou classe social com predomínio em uma determinada sociedade. As técnicas, por exemplo, que ao mesmo tempo em que tornam a vida mais amena e permitem um convívio mais seguro frente aos fenômenos naturais, causam desemprego. Elas não são um acontecimento ou possuem efeitos inexoráveis, mas são o resultado de escolhas, da escolha em produzir uma massa de mão de obras desocupada e, assim, viabilizar auferir lucros ao Capital cada vez maiores. É assim, também, com a fome, decorrente não da escassez de alimentos, mas da escolha em priorizar uma produção material, não para suprir nas necessidades humanas, sociais, mas para a formação de mercadoria e viabilizar as trocas comerciais e a ampliação do Capital.
    A morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, ocorrida na noite da última sexta-feira, dia 20, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, é o resultado de uma escolha, uma escolha na forma de combater a violência urbana, sem mexer nas reais causas do problema. A violência urbana é o resultado direto da desigualdade social, conforme já confirmado por diversos estudos no mundo. A violência não o resultado da maior ou menor riqueza material, mas da assimetria na sua distribuição! Conforme artigo de Frei Betto, de 17/02/2018, publicado no site Hoje em dia, na América Latina, quatro pessoas morrem assassinadas a cada 15 minutos, conforme estudo do Banco Mundial. Ainda, segundo o mesmo artigo, oito dos dez países mais violentos do mundo são da América Latina, que possui, também, uma taxa de homicídio de 23,9 mortos para cada 100 mil habitantes. Só no Brasil, ainda conforme o mesmo artigo, são 47 mil homicídios por ano. Em matéria publicada na versão on line do jornal O Globo, de 08/07/19, o Brasil tem a segunda maior taxa de homicídios da América Latina, com 30,5 homicídios para cada 100 mil habitantes, conforme relatório divulgado pela ONU. Por outro lado, um estudo da ONU que analisou 29 países, entre desenvolvidos e em desenvolvimento, constatou que o Brasil se encontra entre os cinco mais desiguais, com o 1%  mais rico da população concentrando entre 22 e 23% do total de renda do país!
    É um engodo achar que uma sociedade desigual como a nossa, com um histórico de relações sociais degradadas como a que temos, viverá de forma pacífica. É ilusório achar que a mera força policial ou a "Lei" sejam suficientes para a redução dos índices de violência! Conforme matéria publicada do portal G1, de 22/07/19, enquanto a taxa de homicídios caíram em cerca de 23% no Rio de Janeiro, as mortes por ações policiais subiram 15%! Não somente os considerados marginalizados que sofrem com essas ações, populações inteiras que vivem nas chamadas áreas de risco são penalizadas, sendo vítimas de "balas perdidas", tanto de armas de policiais, quanto do tráfico! Não dá para comemorar um resultado desse! Não é possível considerar como adequada a política adotada de combate ao chamado crime organizado! Uma política de combate ao crime que passe ao largo de políticas de promoção social, de educação de qualidade, de acesso a serviços de saúde, de geração e distribuição de renda, não se caracteriza como redução da violência, ao contrário, é a continuidade da violência em outros patamares, levada a efeito pelo Estado, legalizada!
    A morte da menina Ágatha, ainda que não tenha sido diretamente pelas armas da polícia, do Estado, é mais um triste resultado de uma política errada, de uma escolha!         

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